20/04/2018

RESENHA: O Sol na Cabeça - Geovani Martins

O Sol na Cabeça
Autor: Geovani Martins
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 122
Edição: 1
Ano: 2018
Em O sol na cabeça, Geovani Martins narra a infância e a adolescência de garotos para quem às angústias e dificuldades inerentes à idade soma-se a violência de crescer no lado menos favorecido da “Cidade partida”, o Rio de Janeiro das primeiras décadas do século XXI.
Em “Rolézim”, uma turma de adolescentes vai à praia no verão de 2015, quando a PM fluminense, em nome do combate aos arrastões, fazia marcação cerrada aos meninos de favela que pretendessem chegar às areias da Zona Sul. Em “A história do Periquito e do Macaco”, assistimos às mudanças ocorridas na Rocinha após a instalação da Unidade de Polícia Pacificadora, a UPP. Situado em 2013, quando a maioria da classe média carioca ainda via a iniciativa do secretário de segurança José Beltrame como a panaceia contra todos os males, o conto mostra que, para a população sob o controle da polícia, o segundo “P” da sigla não era exatamente uma realidade. Em “Estação Padre Miguel”, cinco amigos se veem sob a mira dos fuzis dos traficantes locais.
Nesses e nos outros contos, chama a atenção a capacidade narrativa do escritor, pintando com cores vivas personagens e ambientes sem nunca perder o suspense e o foco na ação. Na literatura brasileira contemporânea, que tantas vezes negligencia a trama em favor de supostas experimentações formais, O sol na cabeça surge como uma mais que bem-vinda novidade.

O Sol Na Cabeça é um livro de que possui 13 contos do autor Geovani Martins, onde ele dá voz a alguns personagens que por mais fictícios que sejam, parecem muito reais. Todos os contos são ambientados no Rio de Janeiro nos mostrando várias realidades diferentes do que não estamos acostumados a enxergar, uma realidade que não é noticiada, não aparece na TV.
“É tudo muito próximo e muito distante. E, quanto mais crescemos, maiores se tornam os muros.” (Espiral) 
Foram 13 contos todos bem escritos, que nos faziam de fato enxergar uma realidade que é muito invisibilizada. Os contos são bem curtinhos, mas com mensagens tão grandes e importantes... percebi também muitas críticas, sobre os cidadãos de bens, polícia, bandido, religião. Nesses contos não há o certo ou o errado, Geovani só nos mostra a realidade fria e crua de muitas pessoas, dando vozes há muitas vozes que são silenciadas nesse país.
“Ao invés de alimentar a coragem, sufocava. Como sempre sufoca o corpo que é dominado pelo medo.” (O Rabisco)
O primeiro conto denominado Rolézim já nos mostra uma realidade, que imaginamos existir, mas preferimos não enxergá-la, num linguajar fiel aos que jovens da favela e com muitas gírias, de um personagem falando diretamente com o leitor. Foi uma leitura que me impactou, porque o autor não romantizou nada - nem o faz nos outros contos, mas como foi o meu primeiro contato já me fisgou ali.

Apesar de ter gostado bastante do primeiro conto, sem dúvidas tiveram três que se tornaram os meus favoritos, onde fiquei angustiada, revoltada e me deixou bem desconfortável (o que é bem válido). Foram os contos:

Espiral, onde uma criança que não entendia como algumas pessoas "tremiam" quando ele passava, o famoso preconceito enraizado sabe?, e isso acabou resultando em algo maior pra ele.

A História do Periquito e do Macaco que fala sobre o que aconteceu quando a UPP entrou na Rocinha, mostrando uma realidade diferente do que é contada nos jornais, mas o que mais me causou desconforto foi a visão do narrador sobre as crianças no meio de tudo.
“Tinha vez que sentia até pena de ver as criança naquela situação, mas o papo é que a agente se acostuma com cada bagulho sinistro.” (A História do Periquito e do Macaco)
O Mistério da Vila que fala sobre uma senhora macumbeira e que ajudou muita gente na vila, mas que no decorrer do tempo só recebeu ingratidão e muita intolerância religiosa. Esse conto é narrado em terceira pessoa, nos dando a visão de três crianças. 

Sem dúvidas O Sol Na Cabeça é um livro com contos incríveis, sobre uma realidade que muitas vezes é diminuída, silenciada ou apenas "esquecida" por parte da sociedade. Geovani Martins trás essa visibilidade ao leitor de forma real e envolvente, sem romantizações. Super indico essa leitura, vale muito a pena!


11 comentários

  1. Oi, Kamilla.

    O livro por si só já mostra todo a desenvoltura do autor em trazer para os leitores, tudo sob uma perspectiva não mascarada.

    ResponderExcluir
  2. Vi esse livro recentemente no programa do Pedro Bial, até comentei que esse livro é o nosso Sorrisos quebrados, levando em consideração que foi publicado primeiramente lá fora.
    Pela sua resenha, posso perceber que esse livro veio para incomodar, para cutucar a ferida, deixar esse desconforto e nos fazer pensar sobre essa realidade tão dura e cruel.
    Fiquei interessada.

    Beijos

    ResponderExcluir
  3. Oi Kamilla.
    Não gosto muito de ler contos, pois quando a história começa a ficar interessante, ele termina rs
    Mas esse livro parece abordar assuntos importantes do dia-a-dia que nos fazem refletir.
    Às vezes precisamos de um tapa na cara e repensar em algumas atitudes que tomamos ou tentar nos colocar no lugar de outra pessoa que podem ter uma realidade mais dura que a nossa.
    Beijos

    ResponderExcluir
  4. Oi Kamilla,
    Não tinha conhecimento do lançamento desse livro, e apesar de não gostar muito de ler contos, já está anotado na minha lista.
    Parabéns ao autor Geovani Martins por trazer essa visibilidade de uma forma nua e crua, que apesar de trazer personagens fictícios, mostram uma realidade cruel e desconhecida, muitas vezes silenciada.
    Uma leitura que vale muito a pena, trazendo mensagens de grande importância e especialmente críticas ao sistema do Brasil.
    Beijos

    ResponderExcluir
  5. Eu assistir o final de uma entrevista do Geovani no programa do Bial e ele falou um pouco sobre o livro. Chegou até ler um trecho de Espiral. Eu adoro contos e esse livro com certeza quero ler. Adorei a resenha, pois não tinha guardado o nome do livro, achei que se chamasse Rolezim.

    ResponderExcluir
  6. Olá, já percebi que essa obra é daquelas que nos fazem refletir sobre várias situações, e abrem nossos olhos para verdades que nunca tínhamos visto. O bom é que como são contos o leitor consegue enxergar com facilidade as mensagens por trás da história. Beijos.

    ResponderExcluir
  7. Olá Kamilla,
    Apesar das histórias não serem tão felizes, foi bom que o autor mostrou tudo de forma bem limpa e clara, assim muitos podem conhecer essa realidade que tanto tentam esconder, é nesses momentos que vemos como somos privilegiados não é? Sem dúvidas o livro é muito bom.
    Beijos

    ResponderExcluir
  8. Oi, Kamilla!
    Mulher, dei uma sumida daqui que eu nem sei como isso aconteceu hahahahahha Louca eu.
    Eu via esse título e achava que era só mais uma história. Fiquei bem surpresa ao saber do conteúdo do livro e estou bem interessada nele.
    Beijos
    Balaio de Babados

    ResponderExcluir
  9. Não conhecia o livro e fiquei bem interessada é muito bom ler sobre a nossa realidade e também por não ter lados do certo e errado, mostrando como é o ser humano. É uma leitura bem reflexiva sobre a vida e seus acontecimentos, que muitas vezes sabemos e muitas não.

    ResponderExcluir
  10. Não conhecia o livro. Sou do Rio e acho que algumas coisas a gente percebe toda semana por aqui. Infelizmente a cidade parece está caminhando de mal a pior. O livro parece trazer várias reflexões, porém não é um livro que eu leria agora, acho que ler certas coisas e estando próximo disso tudo pode acabar causando mais preocupação na minha cabeça. Já é complicado pensar que a população daqui não pode nem sair na rua tranquilamente.

    ResponderExcluir
  11. Kamilla!
    Vi a entrevista do autor no programa do Bial e na verdade são contos ficcionais veridicos, sonre o que ele viu e vê nos lugares por onde mora. A linguagem é bem do morro mesmo, com gírias e tudo para que todos possam ler.
    Quero muito ter oportunidade de ler e conhecer o autor.
    Bom final de semana!
    “Os piores estranhos são aqueles que vivem na mesma casa e fingem que se conhecem. Conversam banalidades, mas nunca o essencial.” (Augusto Cury)
    cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA ABRIL – ANIVERSÁRIO DO BLOG: 5 livros + vários kits, 7 ganhadores, participem!
    BLOG ALEGRIA DE VIVER E AMAR O QUE É BOM!

    ResponderExcluir