09/03/2018

RESENHA: Mudbound, Lágrimas sobre o Mississippi - Hillary Jordan

Mudbound: Lágrimas sobre o Mississippi
Autora: Hillary Jordan
Editora: Arqueiro
Páginas: 272
Edição: 1
Ano: 2018
Um amor proibido, uma traição terrível, uma agressão selvagem. Um romance de força impressionante, que nos faz mergulhar nas contradições do Mississippi pós-Segunda Guerra Mundial.
Ao descobrir que o marido, Henry, acaba de comprar uma fazenda de algodão no Sul dos Estados Unidos, Laura McAllan, uma típica mulher da cidade, compreende que nunca mais será feliz. Apesar disso, ela se esforça para criar as filhas num lugar inóspito, sob os olhos vigilantes e cruéis de seu sogro.
Enquanto os McAllans lutam para fazer prosperar uma terra infértil, dois bravos e condecorados soldados retornam do front e alteram para sempre a dinâmica não só da fazenda, mas da própria cidade. Jamie, o jovem e sedutor irmão de Henry, faz Laura de repente renascer para a vida, enquanto Ronsel, filho dos arrendatários negros que trabalham para Henry, demonstra uma altivez que não será aceita facilmente pelos brancos da região.
De fato, quando os jovens ex-combatentes se tornam amigos, sua improvável relação desperta sentimentos violentos nos habitantes e uma nova e impiedosa batalha tem início na vida de todos.
Alternando a narrativa entre vários pontos de vista, este premiado romance oferece ao leitor diferentes versões dos acontecimentos. Os personagens, lutando por sentimentos de amor e honra num lugar e época brutais, se veem dentro de uma tragédia de enormes proporções e encontram redenção onde menos esperam.

Hillary Jordan nos apresenta a família McAllan: Henry que sempre sonhou em ter sua fazenda e poder plantar e colher, casado com a Laura, com quem tem duas filhas, que nunca teve esse mesmo desejo de sair da cidade e quando se viu presa naquele lugar se tornou bem infeliz, Jamie - irmão do Henry - que passou um tempo sendo piloto na segunda guerra e temos o odiável Pappy (pai dos irmãos) que é um ser imprestável e que detesto. Outra família que também ganha destaque é a Jackson, onde o filho  mais velho Ronsel está lutando na guerra, o pai - Hap - e os irmãos gêmeos mais novos ajudam no plantio e a mãe, Florence, é parteira e uma guerreira, se tiver que ajudar no trabalho braçal, ela não exita e há também a filha mais nova de Hap e Florence, a Lilly May.

A realidade dessas famílias sempre foi completamente diferente por inúmeros motivos, mas o principal deles é que: a família McAllan é formada por brancos e a família Jackson é constituída apenas por negros. Atualmente, na nossa realidade, isso não faz a menor diferença. Porém não era assim em Mississippi naquela época pós-guerra, pelo contrário, negro era tratado de forma inferior, só servia pra trabalhar pra branco, não podia falar, opinar, reclamar, nem sair pela frente de um estabelecimento.

As famílias citadas nunca haviam tido nenhum contato, até que o Henry adquire a tão sonhada fazenda e contrata a família Jackson pra trabalhar pra ele. E no decorrer da história teremos vários momentos dolorosos, angustiantes e revoltantes acontecendo.
Mudbound é uma obra impactante, apesar de falar sobre o racismo em uma época que esse termo nem existia, já que pra sociedade negro era inferior e ponto, a obra também aborda outros temas como traição e família.

A obra nos dá vários pontos de vista, como da Laura, Jamie, Florence, Hap, Ronsel e Henry. O que achei sensacional, é bem gritante o racismo e como os brancos eram privilegiados (em algumas situações isso segue até hoje). A autora foi bem feliz na construção do enredo, dos capítulos e dos personagens. Os capítulos são curtos, sempre nos deixando ansiosos pelo que vem a seguir, mas o que encanta mesmo é como os personagens acabam sendo reais e é doloroso admitir isso.
“Quando estávamos em Wimbourne, uma garota inglesa que eu nunca tinha visto antes se aproximou e apalpou a minha bunda. Perguntei o que estava fazendo e ela respondeu "Estou verificando se você tem rabo." "E por que eu teria um rabo?", questionei. Ela contou, então, que os soldados brancos diziam a todas as inglesas que os negros americanos eram mais macacos do que gente.”
Hillary Jordan consegue nos fazer sentir a dor dos personagens, a angústia da Laura por ser colocada em uma fazenda com um sogro detestável e o leitor até sente comovida e vem lá a autora nos jogar aquele balde de água gelada numa situação em que o Ronsel é agredido por ser negro e é chocante, a autora inclusive insere a presença do Ku Klux Klan que é uma entidade que defendia a supremacia branca, e é de gerar uma revolta de embrulhar o estômago. O intuito da autora não é diminuir a dor do outro, mas mostrar personagens reais, críveis. A vulnerabilidade do ser humano e a crueldade dele também.

A família é um fator importante no decorrer da obra, nós percebemos como certos comportamentos por terem sido ensinados pelos "pais" podem ser distorcidos e nem se dá conta. Pappy, pai do Henry e Jamie, é um ser totalmente detestável (duvido você ler essa obra e não odiá-lo), um ser de dar nojo... racista ao extremo. Henry, por sua vez nunca demostrou o mesmo comportamento do pai, mas sempre acatou e respeito a visão do pai e tomou algumas atitudes baseado no que o pai achava o certo.
Mas uma família que de fato me encantou e me vi apegada foi a Jackson, pensem em pessoas fortes e incríveis... foi muito doloroso pra mim visualizar pessoas tão incríveis sendo diminuídas por causa da cor, destaco a Florence que é uma exemplo de mulher e o Ronsel, seu filho mais velho, que lutou na segunda guerra mundial e ajudou muito a acabar com tudo isso e é recebido pela sociedade como um nada, mas que ganhou o meu coração. 
“Às vezes, é necessário fazer o errado. Às vezes, fazer o errado é a única maneira de acertar as coisas.”
Mudbound tem uma trama que desperta raiva, desconforto, ódio, revolta, empatia e reflexões. Gostaria muito de dizer, caro leitor, que o final as pessoas aprendem com seus erros... mas a vida real não é bem assim, ainda há um caminho grande pela frente. Super indico essa obra, espero que vocês leiam e reflitam!


18 comentários

  1. Kamilla, tudo bem? Amei a sua resenha, me fez sentir exatamente o que acredito que você sentiu ao ler o livro. Sou negra e fico muito incomodada com livros do tema, mas acredito que estou desenvolvendo uma maturidade sobre isso, e não sei se foi a sua forma de escrever essa resenha junto com o fato do livro não ser tão extenso que me despertou um interesse muito grande em lê-lo.
    Beijos

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  2. Linda a sua foto. Estou louca para ver o filme porque amo este estilo de história principalmente porque acho importante ver a questão familiar e a guerra racial nos EUA daquela época, acho que temos que evoluir demais nesta questão.

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  3. Olá Kamilla, adorei a sua resenha muito bem colocada e sincera. Ás vezes, é importante algo que nos jogue na cara algumas realidades que fingimos não ver. Pela sua resenha não há dúvida de como essa história realmente é impactante, mas infelizmente por agora não é algo que eu esteja procurando... como minha vida anda uma correria só, estou em busca de algo para me distrair, me alegrar e acho que essa história nao é o caminho kk

    beijos
    Mayara

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  4. Esse foi um dos filmes que não consegui assistir antes do Oscar, mas irei atrás... E se gostar vou querer ler o livro, como sempre né hahaha
    Ótima resenha =D

    Beijão
    Toca da Lebre
    Universo DC 52

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  5. Oi, Kamilla.

    É uma situação bem conflitante vivida por se essa família, né?

    No qual podemos ver a dura realidade sofrida na pele por eles, por serem tratados com diferença.

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  6. Oi Kamilla, tudo bem? Eu só vi o filme e apesar de encontrar algumas falhas achei a trama excelente e com um final impactante! Fiquei com vontade de conferir o livro e conhecer mais a história dessas duas famílias!

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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  7. Eu lendo a sua resenha já fiquei com um nó no peito, como mulher negra sei bem como essas obras são importantes para mostrar como éramos tratados e como temos um longo caminho a percorrer, pretendo ler em breve.

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  8. Kamilla!
    Sempre que vejo uma obra que fala sobre o racismo, tenho vontade de ler, porque mesmo que 'aparentemente' ele não tenha tanta ênfase como antigamente, tudo era ainda mais complicado e gosto de saber o que eles passavam, mesmo sendo dolorido e abominável.
    Bom ver que o autor tratou de forma verídica e ainda mostrou o apoio familiar.
    Bom final de semana!
    “Os lírios não bastam. As leis não nascem das flores. Meu nome é luta, e escreve-se na história.” (Luciana Maria Tico-tico)
    cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA MARÇO: 3 livros + vários kits, 5 ganhadores, participem!
    BLOG ALEGRIA DE VIVER E AMAR O QUE É BOM!

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  9. Eu li esse livro e confesso que esperava bem mais, o que não deixou de me tocar com o que li. Odiei alguns personagens, amei outros. Agora quero ver o filme, espero gostar tanto quando do livro.

    Abraços.
    https://cabinedeleitura0.blogspot.com.br/

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  10. Gostaria de ler, deve ser angustiante essa leitura com tanto sofrimento e descaso com os negros. Gosto de ler e assistir sobre o assunto, pois fico imaginando o sofrimento que tanta gente passou para conseguirmos ter nossa liberdade, embora ainda tem muito o que conseguir. Tem coisas que eles passaram que nem imaginava.

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  11. Oi Kamilla! Fiquei apaixonada por esse livro quando vi o trailer do filme, e quando soube que tinha o livro, corri pra colocar na lista de desejos. Apesar de sempre me revoltar e por vezes chorar com livros ou filmes com essa temática, eu gosto muito! Essa história tem muito o que mostrar, e pensar que os negros erma tão humilhados e maltratados apenas por serem negros! Eu quero muito ler!
    Bjoxx

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  12. Olá!
    Eu assisti esse filme, mas estou com uma enorme vontade de conhecer a leitura dessa trama. Acho que tem uma boa dose de críticas sociais e a luta de um povo que até hoje busca seus ideais.
    Amei sua resenha!
    Beijos!

    Camila de Moraes

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  13. Que situação essa família vive heim???
    Ainda teremos que reverenciar filmes como este para entendermos que somos todos iguais, independente de cor de pele. Adorei e adica e quero conferir.
    Beijos

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  14. Olha eu gostei do enredo e não conhecia a obra, mas pensa em uma pessoa que evita esse tipo de livro. È porque eu fico com raiva demais, desse tipo de situação sabe, rsrsrs.
    Mas vou anotar a dica e dar uma chance futuramente.
    Beijuh

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  15. Eu acabei de ler um livro bem parecido que o livro a resposta da kathryn stockett que Inclusive eu recomendo para você eu adorei a preguiça do livro e sinceramente eu fiquei bem interessado em ver mas aí eu estou na minha ressaca literária E pelo que eu vi esse livro foi adaptado para Netflix certo

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  16. Olá, tudo bem?

    Nossa, achei a premissa bem intensa e forte, a temática abordada também. Confesso que não conhecia esse livro, mas que fiquei bem interessada, gosto de livros que nos colocam para pensar, e fiquei com a sensação de que esse é assim. Acho que esse livro é o tipo que leva as nossas emoções ao máximo, quero!

    Beijo!

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  17. Já tinha visto a capa do livro algumas vezes, mas não dei muita atenção. Até ler sua resenha não imaginava que fosse um livro tão intenso. O livro parece ser muito bom e capaz de trazer várias questões para refletirmos. Não vi falando muito sobre o filme aqui no Brasil. Não sei se vou ler o livro, mas caso eu veja o filme um dia eu espero sentir pelo menos um pouco de tudo o que você sentiu. Tomara que eles tenham conseguido fazer uma ótima adaptação.

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  18. Oi!
    Ainda não conhecia esse livro, mas parece ser uma historia muito densa, pesada da qual nos dar revolta e infelizmente que ocorreu, acho muito importante a autora dar voz a essa milhares de pessoas que viveram nessa realidade e sua luta, irei procurar o filme também !!

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